Pneumologista: cigarro eletrônico causa antigas e novas doenças

Pneumologista: cigarro eletrônico causa antigas e novas doenças

MidiaNews

Apesar do cerco das autoridades, os cigarros eletrônicos vêm se popularizando cada vez mais entre os jovens. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já proibiu a comercialização desses produtos devido aos riscos que apresentam à saúde, mas ainda assim continuam sendo muito consumidos.

Ex-presidente da Sociedade Mato-Grossense de Pneumologia e professor da UFMT, o médico Clóvis Botelho confirma que o uso do cigarro eletrônico pode causar muitas doenças, inclusive desconhecidas.

“Tudo que o tabagismo tradicional provoca também é provocado pelo cigarro eletrônico. Câncer de pulmão, doenças cardiovasculares, enfisema, bronquite crônica, fibrose pulmonar… Mais de cinquenta tipos de doenças graves são relacionados ao tabagismo. Além desses já conhecidos pela ciência, temos alguns outros já identificados relacionados ao cigarro eletrônico”, conta.

Ele também alerta para a possibilidade de uma doença descoberta recentemente e que tem ligação direta com os dispositivos.

“A Evali é uma doença nova e, se não fosse a pandemia de Covid-19, com certeza seria a mais comentada na mídia nacional e internacional. Ela consiste em queimaduras nos alvéolos pulmonares que geram edemas e pode levar pessoas para a UTI ou até mesmo a óbito. Essa doença é nova, mas quantas outras nós vamos observar daqui para frente? Ainda não sabemos”, explica.

O pneumologisa Clóvis Botelho

Na opinião de Botelho, os danos são difíceis de serem quantificados e podem ser considerados inclusive mais prejudiciais do que os causados pelos cigarros tradicionais.

“É difícil dizer qual é o pior. Mas, na minha concepção, é o cigarro eletrônico, porque você está inalando substâncias que você não conhece. Ele contém nicotina e junto são misturadas várias substâncias para melhorar o sabor e o cheiro. Essas substâncias são colocadas no frasco como um coquetel de produtos”, alerta.

“Ninguém sabe o que tem ao certo e o que pode causar. A pessoa que usa não sabe se ela vai ter uma reação inflamatória ou alérgica. Temos pouco tempo de estudo sobre os efeitos adversos”.

Em uma comparação direta com o tabagismo tradicional, Botelho aponta que só o futuro poderá indicar as consequências do consumo e seus possíveis tratamentos.

“Se fizermos uma analogia com o tabagismo tradicional, demorou anos para podermos ver a relação do tabaco com doenças, porque um câncer de pulmão demora vinte anos para ser formado. Não sabemos o que pode ocorrer com cigarro eletrônico, além das doenças já conhecidas”, exemplifica.

O médico explica que, muitas vezes, ocorre a ilusão de que os cigarros eletrônicos não são prejudiciais e que seus consumidores acreditam não serem viciados.

“O cigarro comum industrializado tem cerca de um miligrama de nicotina. Já os refis de cigarro eletrônico têm cinco, até dez miligramas de nicotina. O nível de dependência é maior do que nas pessoas que consomem o cigarro tradicional. Muitas vezes, quem fuma cigarro eletrônico acha que não tem problema nenhum e que não é dependente, porque não tem a sensação de que está fazendo algo errado”, comenta.

Segundo ele, essa sensação de “não estar fazendo algo errado” foi uma estratégia muito bem pensada pelo mercado tabagista.

“Foi criada na sociologia humana a impressão de que é algo bom por parecer melhor que o cigarro convencional. Foi a indústria que quis fazer isso, porque ela está perdendo espaço. O número de fumantes está diminuindo. No Brasil, na década de 80, a prevalência de fumantes era de 40%. Hoje está entre 9% e 10% – a redução foi muito drástica. A perda de mercado fez com que as indústrias procurassem novas formas de fumar. Elas não querem perder o mercado, eles querem lucrar”, relata.

Um mito, segundo o médico, é de que os cigarros eletrônicos ajudariam aqueles que desejam parar de fumar, mas a ciência se opôs a essa justificativa de consumo.

“No começo, foi espalhada a mentira de que o cigarro eletrônico ajudava a parar de fumar. Talvez a pessoa que desenvolveu esse produto realmente tivesse essa ideia, mas a indústria aproveitou de outra maneira”, disse.

“Pelo contrário, o cigarro eletrônico é uma nova forma de dependência. Foi criada essa ideia do marketing visual de ser algo bonito e com um aparelho moderno. Os jovens gostam disso, de novidade, de coisas bonitas e cercadas do conto de fadas de que é algo saudável”. (jornaldoonibusms.com.br)

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